ATIVIDADE SOBRE A TERCEIRA FASE DO MODERNISMO NO BRASIL

 


1.    Leia as afirmações feitas a partir da obra Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto.

I. A peça, em forma de poema, apresenta a história de um dos tantos severinos de Maria, filhos de Zacarias, que foge da morte que os abate antes da velhice.

II. A trajetória do migrante nordestino em busca de um mundo melhor permeia o enredo: por onde passa, encontra miséria, morte, pobreza, sofrimento.

III. O título é um exemplo de poesia engajada que retrata a dura realidade da população nordestina.

IV. O nascimento de uma criança pode representar a esperança de dias melhores; mesmo com tantas adversidades, há uma quebra na trajetória sofrida do personagem.

Das proposições acima,

a)    apenas II, III e IV estão corretas.

b)    apenas III e IV estão corretas.

c)    apenas I e IV estão corretas.

d)    apenas I e II estão corretas.

e)    I, II, III e IV estão corretas.

 

Ela parecia pedir socorro contra o que de algum modo involuntariamente dissera. E ele com os olhos miúdos quis que ela não fugisse e falou:

— Repita o que você disse, Lóri.

— Não sei mais.

— Mas eu sei, eu vou saber sempre. Você literalmente disse: um dia será o mundo com sua impersonalidade soberba versus a minha extrema individualidade de pessoa, mas seremos um só.

— Sim.

Lóri estava suavemente espantada. Então isso era a felicidade. De início se sentiu vazia. Depois seus olhos ficaram úmidos: era felicidade, mas como sou mortal, como o amor pelo mundo me transcende. O amor pela vida mortal a assassinava docemente, aos poucos. E o que é que eu faço? Que faço da felicidade? Que faço dessa paz estranha e aguda, que já está começando a me doer como uma angústia, como um grande silêncio de espaços? A quem dou minha felicidade, que já está começando a me rasgar um pouco e me assusta? Não, não quero ser feliz. Prefiro a mediocridade. Ah, milhares de pessoas não têm coragem de pelo menos prolongar-se um pouco mais nessa coisa desconhecida que é sentir-se feliz e preferem a mediocridade. Ela se despediu de Ulisses quase correndo: ele era o perigo.

LISPECTOR, C. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1990.


2.    A obra de Clarice Lispector alcança forte expressividade em razão de determinadas soluções narrativas. No fragmento, o processo que leva a essa expressividade fundamenta-se no 

a)    discurso fragmentado como reflexo de traumas psicológicos.

b)    exercício de análise filosófica conduzido pelo narrador.

c)    desencontro estabelecido no diálogo do par amoroso.

d)    registro do processo de autoconhecimento da personagem.

e)    afastamento da voz narrativa em relação aos dramas existenciais.

 

Vergonha de viver

Há pessoas que têm vergonha de viver: são os tímidos, entre 02 os quais me incluo. Desculpem, por exemplo, estar tomando lugar 03 no espaço. Desculpem eu ser eu. Quero ficar só! grita a alma do 04 tímido que só se liberta na solidão. Contraditoriamente quer o quente 05 aconchego das pessoas. Vai, Carlos, vai ser gauche na vida. (Não 06 sei se estou citando Drummond do modo certo, escrevo de cor).

E para pedir aumento de salário – a tortura. Como começar? 08 Apresentar-se com fingida segurança de quem sabe quanto vale em 09 dinheiro – ou apresentar-se como se é, desajeitado e excessivamente 10 humilde.

O que faz então? Mas é que há a grande ousadia dos tímidos. E 12 de repente cheio de audácia pelo aumento com um tom reivindicativo 13 que parece contundente. Mas logo depois, espantado, sente-se mal, 14 julga imerecido o aumento, fica todo infeliz.

(Clarice Lispector)


3.    Assinale a alternativa correta.

a)    Em “Vergonha de viver”, Clarice Lispector escolhe comentar sobre fatos da vida cotidiana tomando como ponto de partida um tipo social cujo comportamento é centrado na timidez.

b)    Ao citar um conhecido verso, de autoria do poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector escolhe filiar-se a pressupostos estéticos vinculados a uma tradição neoparnasiana na prosa.

c)    Nos três parágrafos do trecho escolhido de “Vergonha de viver” é facilmente encontrável a intensa experiência epifânica, cuja presença desarticula o eixo sintático-semântico da crônica, assim como o equilíbrio racionalista da autora.

d)    Não há marcas de empatia, no texto, da autora para com as pessoas as quais ela classifica como “tímidos”, configurando, por conseguinte, um acentuado distanciamento entre a cronista e o tema sobre o qual escreveu.

e)    A condenação, por parte da autora, do comportamento da timidez transforma “Vergonha de viver” em uma das mais contundentes e ácidas crônicas escritas pela autora de Felicidade clandestina.

 

"O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem."

ROSA, J. G. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.


4.  No romance Grande sertão: veredas, o protagonista Riobaldo narra sua trajetória de jagunço. A leitura do trecho permite identificar que o desabafo de Riobaldo se aproxima de um(a) 

a)    notícia, por informar sobre um acontecimento.

b)    aforismo, por expor uma máxima em poucas palavras.

c)    crônica, por tratar de fatos do cotidiano.

d)    fábula, por apresentar uma lição de moral.

e)    diário, por trazer lembranças pessoais.

 

5.  Por vezes, a literatura pode se pautar por diferentes tempos: há o tempo da história narrada, de sua sequência cronológica, e há o tempo da linguagem que processa essa história. A linguagem experimental do irlandês James Joyce reinterpreta, em pleno século XX, a história mítica de Ulisses. No Brasil, há uma ocorrência similar, se pensamos em Grande sertão: veredas, romance onde Guimarães Rosa articula magistralmente dois planos temporais: 

a)    a história do passado colonial e o registro das velhas crônicas medievais.

b)    o ritmo cantante da lírica e a urgente denúncia política.

c)    o universo arcaico do sertão e a expressão linguística ousada e inventiva.

d)    a corrosão nostálgica da memória e a busca de uma nova mitologia.

e)    o desapego às crenças do passado e a obsessão pelo experimentalismo estético.

 

Leia o trecho abaixo, extraído de Sagarana, de João Guimarães Rosa:

Estremecem, amarelas, as flores da aroeira. Há um frêmito nos caules rosados da erva-de-sapo. A erva-de-anum crispa as folhas, longas, como folhas de mangueira. Trepidam, sacudindo as estrelinhas alaranjadas, os ramos da vassourinha. Tirita a mamona, de folhas peludas, como o corselete de um caçununga, brilhando em verde-azul! A pitangueira se abala, do jarrete à grimpa. E o açoita-cavalos derruba frutinhas fendilhadas, entrando em convulsões.

– Mas, meu Deus, como isto é bonito! Que lugar bonito p’r’a gente deitar no chão e se acabar!…

É o mato, todo enfeitado, tremendo também com a sezão.

(GUIMARÃES ROSA. “Sarapalha”. Sagarana. Obra completa (vol. 1). Nova Aguilar, 1994. p. 295.)

 

6. O trecho extraído do conto “Sarapalha”, do livro Sagarana, de Guimarães Rosa, exemplifica um aspecto que está presente em todos os contos do mesmo livro. Assinale a alternativa que reconhece esse aspecto de forma adequada. 

a)    São narrados duelos que se travam entre o meio e o homem e que são vencidos apenas pelo uso da força física e da valentia.

b)    A descrição do meio físico é mediada pela visão do narrador, que apresenta a natureza como elemento tão reversível quanto a condição humana.

c)    A descrição pormenorizada do espaço físico visa a excluir a dimensão psicológica e mística da narrativa, para fortalecer a feição pitoresca da região.

d)    A ausência de aliterações e a economia de adjetivos são recursos utilizados para representar a aridez da natureza.

e)    A religiosidade cristã católica rege as decisões humanas e transforma os homens e a natureza a partir da ação direta de Deus.

 

7.    Na elaboração de sua poesia, João Cabral de Melo Neto não teve dúvida em amadurecer um projeto radical de linguagem, de caráter programático, pelo qual sua expressão poética adota uma rígida disciplina formal. Por conta disso, muitas passagens de sua poesia traduzem um compromisso com o necessário rigor da forma, tal como se vê nestes versos: 

a)    Mundo mundo, vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução.

b)    Vou-me embora pra Pasárgada, Lá sou amigo do rei, Lá tenho a mulher que eu quero Na cama que escolherei.

c)    Meu verso é minha consolação. Meu verso é minha cachaça. Todo mundo tem sua cachaça.

d)    Minhas palavras são a metade de um diálogo obscuro Continuando através de séculos impossíveis. Nossas perguntas e respostas se reconhecem Como os olhos dentro dos espelhos.

e)    Daí porque o sertanejo fala pouco: as palavras de pedra ulceram a boca e no idioma pedra se fala doloroso; o natural desse idioma fala à força.

 

O mato do Mutúm é um enorme mundo preto, que nasce dos buracões e sobe a serra. O guará-lobo trota a vago no campo. As pessôas mais velhas são inimigas dos meninos. Soltam e estumam cachorros, para ir matar os bichinhos assustados — o tatú que se agarra no chão dando guinchos suplicantes, os macacos que fazem artes, o coelho que mesmo até quando dorme todo-tempo sonha que está sendo perseguido. O tatú levanta as mãozinhas cruzadas, ele não sabe — e os cachorros estão rasgando o sangue dele, e ele pega a sororocar. O tamanduá. Tamanduá passeia no cerrado, na beira do capoeirão. Ele conhece as árvores, abraça as árvores. Nenhum nem pode rezar, triste é o gemido deles campeando socôrro. Todo choro suplicando por socôrro é feito para Nossa Senhora, como quem diz a salve-rainha. Tem uma Nossa Senhora velhinha. Os homens, pé-ante-pé, indo a peitavento, cercaram o casal de tamanduás, encantoados contra o barranco, o casal de tamanduás estavam dormindo. Os homensempurraram com a vara de ferrão, com pancada bruta, o tamanduá que se acordava. Deu som surdo, no corpo do bicho, quando bateram, o tamanduá caiu pra lá, como um colchão velho.

ROSA, G. Noites do sertão (Corpo de baile). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016.

 

8.    Na obra de Guimarães Rosa, destaca-se o aspecto afetivo no contorno da paisagem dos sertões mineiros. Nesse fragmento, o narrador empresta à cena uma expressividade apoiada na 

a)    religiosidade na contemplação do sertanejo e de seus costumes.

b)    correspondência entre práticas e tradições e a hostilidade do campo.

c)    plasticidade de cores e sons dos elementos nativos.

d)    dinâmica do ataque e da fuga na luta pela sobrevivência.

e)    humanização da presa em contraste com o desdém e a ferocidade do homem.

 

Dois parlamentos

Nestes cemitérios gerais

não há morte pessoal.

Nenhum morto se viu

com modelo seu, especial.

Vão todos com a morte padrão,

em série fabricada.

Morte que não se escolhe

e aqui é fornecida de graça.

Que acaba sempre por se impor

sobre a que já medrasse.

Vence a que, mais pessoal,

alguém já trouxesse na carne.

Mas afinal tem suas vantagens

esta morte em série.

Faz defuntos funcionais,

próprios a uma terra sem vermes.

 

MELO NETO, J. C. Serial e antes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997 (fragmento).

 

9.    A lida do sertanejo com suas adversidades constitui um viés temático muito presente em João Cabral de Melo Neto. No fragmento em destaque, essa abordagem ressalta o(a) 

a)    tom de ironia para com a fragilidade dos corpos e da terra.

b)    nivelamento do anonimato imposto pela miséria na morte.

c)    aspecto desumano dos cemitérios da população carente.

d)    inutilidade de divisão social e hierárquica após a morte.

e)    indiferença do sertanejo com a ausência de seus próximos.

 

A partida de trem

Marcava seis horas da manhã. Angela Pralini pagou o táxi e pegou sua pequena valise. Dona Maria Rita de Alvarenga Chagas Souza Melo desceu do Opala da filha e encaminharam-se para os trilhos. A velha bem-vestida e com joias. Das rugas que a disfarçavam saía a forma pura de um nariz perdido na idade, e de uma boca que outrora devia ter sido cheia e sensível. Mas que importa? Chega-se a um certo ponto — e o que foi não importa. Começa uma nova raça. Uma velha não pode comunicar-se. Recebeu o beijo gelado de sua filha que foi embora antes do trem partir. Ajudara-a antes a subir no vagão. Sem que neste houvesse um centro, ela se colocara do lado. Quando a locomotiva se pôs em movimento, surpreendeu-se um pouco: não esperava que o trem seguisse nessa direção e sentara-se de costas para o caminho.

Angela Pralini percebeu-lhe o movimento e perguntou:

— A senhora deseja trocar de lugar comigo?

Dona Maria Rita se espantou com a delicadeza, disse que não, obrigada, para ela dava no mesmo. Mas parecia ter-se perturbado. Passou a mão sobre o camafeu filigranado de ouro, espetado no peito, passou a mão pelo broche. Seca. Ofendida? Perguntou afinal a Angela Pralini:

— É por causa de mim que a senhorita deseja trocar de lugar?

LISPECTOR, C. Onde estivestes de noite. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980 (fragmento).

 

10. A descoberta de experiências emocionais com base no cotidiano é recorrente na obra de Clarice Lispector. No fragmento, o narrador enfatiza o(a) 

a)    sentimento de solidão alimentado pelo processo de envelhecimento.

b)    incompatibilidade psicológica entre mulheres de gerações diferentes.

c)    comportamento vaidoso de mulheres de condição social privilegiada.

d)    anulação das diferenças sociais no espaço público de uma estação.

e)    constrangimento da aproximação formal de pessoas desconhecidas.



11. A obra de Rubem Valentim apresenta emblemas que, baseando-se em signos de religiões afro-brasileiras, se transformam em produção artística. A obra Emblema 78 relaciona-se com o Modernismo em virtude da 

a)    simplificação de formas da paisagem brasileira.

b)    valorização de símbolos do processo de urbanização.

c)    fusão de elementos da cultura brasileira com a arte europeia.

d)    alusão aos símbolos cívicos presentes na bandeira nacional

e)    composição simétrica de elementos relativos à miscigenação racial.

 

Famigerado

Com arranco, [o sertanejo] calou-se. Como arrependido de ter começado assim, de evidente. Contra que aí estava com o fígado em más margens; pensava, pensava. Cabismeditado. Do que, se resolveu. Levantou as feições. Se é que se riu: aquela crueldade de dentes. Encarar, não me encarava, só se fito à meia esguelha. Latejava-lhe um orgulho indeciso. Redigiu seu monologar.

O que frouxo falava: de outras, diversas pessoas e coisas, da Serra, do São Ão, travados assuntos, insequentes, como dificultação. A conversa era para teias de aranha. Eu tinha de entender-lhe as mínimas entonações, seguir seus propósitos e silêncios. Assim no fechar-se com o jogo, sonso, no me iludir, ele enigmava. E, pá:

— Vosmecê agora me faça a boa obra de querer me ensinar o que é mesmo que é: fasmisgerado… faz-me-gerado… falmisgeraldo… familhas-gerado…?

ROSA, J. G. Primeiras estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988


12. A linguagem peculiar é um dos aspectos que conferem a Guimarães Rosa um lugar de destaque na literatura brasileira. No fragmento lido, a tensão entre a personagem e o narrador se estabelece porque

a)    o narrador se cala, pensa e monologa, tentando assim evitar a perigosa pergunta de seu interlocutor.

b)    o sertanejo emprega um discurso cifrado, com enigmas, como se vê em “a conversa era para teias de aranhas".

c)    entre os dois homens cria-se uma comunicação impossível, decorrente de suas diferenças socioculturais.

d)    a fala do sertanejo é interrompida pelo gesto de impaciência do narrador, decidido a mudar o assunto da conversa.

e)    a palavra desconhecida adquire o poder de gerar conflito e separar as personagens em planos incomunicáveis.

 


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