NAVIO NEGREIRO IV
Era um
sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
Negras
mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!
E ri-se a
orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...
Presa nos
elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!
No
entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."
E ri-se a
orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...
(CASTRO ALVES)
1. O
Navio Negreiro é uma poesia de Castro Alves que integra um grande poema épico
chamado Os Escravos. Escrita em 1869, a poesia relata a situação sofrida pelos africanos
vítimas do tráfico de escravos nas viagens de navio da África para o Brasil.
Ela é dividida em seis partes com metrificação variada. O poema Navio Negreiro
é a descrição do que se via no interior de um navio negreiro. Perceba a
capacidade de Castro Alves em nos fazer ver a cena, como se estivéssemos num
teatro. Explique como o autor denuncia essa prática ao longo da estrofe lida.
2. Explique
o significado da expressão “um sonho dantesco”. Por que o autor escolheu
a palavra “dantesco” para descrever o cenário no navio?
3. Que
imagens o poeta cria com a expressão "legiões de homens negros como a
noite"? Como essa imagem
reforça o sofrimento descrito no poema?
4. Analise
a frase “E ri-se a orquestra irônica, estridente.” Quem é a orquestra
mencionada no poema? Qual é o efeito dessa ironia na situação dos escravizados?
5. “E
ri-se Satanás!" O que essa última frase sugere sobre a visão do poeta
em relação ao sofrimento dos escravizados?
6. Pesquise
o significado de cada palavra abaixo presente no poema. Busque um significado
que tenha a ver com o contexto do poema:
açoite:
algoz:
arquejar:
luzernas:
mosqueado:
musa:
tombadilho:
turba:
turbilhão:
vãs:
a) denuncia a prática do tráfico de pessoas escravizadas.
b) critica os defensores da abolição da escravidão.
c) retrata pessoas escravizadas em um ambiente de senzala.
d) idealiza os escravizados como heróis da pátria brasileira.
e) satiriza as práticas escravagistas do Brasil imperial.
8. É correto afirmar sobre o poema O navio negreiro, de Castro Alves:
a) O poema é símbolo da segunda geração do Romantismo brasileiro ao abordar
as agruras dos escravos no navio negreiro.
b) Estas estrofes revelam a esperança de liberdade dos negros escravizados
e representam um manifesto da luta abolicionista.
c) Estas estrofes revelam os horrores do tráfico de negros escravizados,
constituindo-se como símbolo da terceira geração romântica e como manifesto da
luta abolicionista.
d) As estrofes revelam a nostalgia da terra natal ao mesmo tempo em que
fazem uma denúncia social.
e) A poesia abolicionista de Castro Alves revela um sonho dantesco que
busca suavizar os horrores da viagem.
TODO CAMBURÃO TEM UM POUCO DE NAVIO NEGREIRO
Tudo
começou quando a gente conversava
Naquela
esquina alí
De
frente àquela praça
Veio
os homens
E
nos pararam
Documento
por favor
Então
a gente apresentou
Mas
eles não paravam
Qual
é negão? Qual é negão?
O
que que tá pegando?
Qual
é negão? Qual é negão?
É
mole de ver
Que
em qualquer dura
O
tempo passa mais lento pro negão
Quem
segurava com força a chibata
Agora
usa farda
Engatilha
a macaca
Escolhe
sempre o primeiro
Negro
pra passar na revista
Pra
passar na revista
Todo
camburão tem um pouco de navio negreiro
Todo
camburão tem um pouco de navio negreiro
É
mole de ver
Que
para o negro
Mesmo
a AIDS possui hierarquia
Na
África a doença corre solta
E
a imprensa mundial
Dispensa
poucas linhas
Comparado,
comparado
Ao
que faz com qualquer
Figurinha
do cinema
Comparado,
comparado
Ao
que faz com qualquer
Figurinha
do cinema
Ou
das colunas sociais
Todo
camburão tem um pouco de navio negreiro
Todo camburão tem um pouco de navio negreiro
(Grupo “O Rappa”)
9. Discuta o título da canção. O que o grupo O Rappa quis
dizer com a frase “Todo camburão tem um pouco de navio negreiro”?
10. O navio negreiro foi utilizado no Brasil durante o
período de escravidão. Como essa imagem é trazida para o contexto atual na
música?
11.
Qual é a ligação entre o camburão da polícia e o navio
negreiro, segundo a canção?
12. Relembre o poema "O Navio Negreiro", de
Castro Alves. Quais semelhanças você percebe entre as imagens e sensações
descritas no poema e na letra da música?
13. A música faz uma crítica direta a qual tipo de situação social no Brasil? Cite trechos que apoiam sua resposta.
14.
Como o racismo estrutural e a violência policial estão
retratados nessa música?
15.
Como a história da escravidão impacta as relações
raciais e sociais no Brasil de hoje?
16.
A violência policial contra a população negra tem
relação com o passado escravocrata do Brasil?
“A você sobrevivente, o mais resistente,
você o escolhido por Deus, naturalmente o mais forte, que não se tornou comida
de tubarão, nesse transporte por um transatlântico malsucedido [...] Essa
história daria um filme, por isso eu vou contar a minha [...]”
(Mano
Brown, Racionais MC’s)
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1. Castro Alves denuncia a escravidão ao descrever o cenário brutal e desumano dentro do navio negreiro.
2. A expressão “um sonho dantesco” refere-se a algo terrível, assustador, como as visões do inferno descritas por Dante Alighieri em A Divina Comédia.
3. A expressão “legiões de homens negros como a noite” evoca uma imagem de uma grande massa de pessoas de pele negra, comprimidas no navio.
4. A “orquestra” mencionada no poema parece ser uma metáfora para os sons terríveis no navio: gritos, gemidos, o estalar do açoite, talvez até a zombaria dos marinheiros.
5. Essa frase sugere que o poeta enxerga a escravidão como uma prática tão desumana e horrível que parece ser a própria obra de Satanás.
6.
Açoite: Chicote utilizado para castigar os escravos.
Algoz: Aquele que inflige tortura ou sofrimento, como os senhores e capatazes.
Arquejar: Respirar com dificuldade, como os escravos exaustos.
Luzernas: Pequenas lanternas ou luzes no navio.
Mosqueado: Algo marcado, manchado (em sentido figurado, pode sugerir sofrimento).
Musa: Fonte de inspiração, embora aqui possa indicar ironia no sofrimento.
Tombadilho: Parte superior do navio onde ficavam os escravizados.
Turba: Multidão desorganizada, referindo-se aos escravos.
Turbilhão: Movimento caótico, aqui simbolizando o caos e a dor.
Vãs: Inúteis, referindo-se à falta de esperança.
7. A
8. C
9. O Rappa sugere que as práticas violentas e repressoras da polícia brasileira, especialmente contra pessoas negras, têm semelhanças com a violência cometida contra os escravos nos navios negreiros.
10. A imagem do navio negreiro é usada como uma metáfora para as abordagens violentas da polícia, especialmente contra a população negra.
11. A música compara o camburão da polícia ao navio negreiro, sugerindo que ambos são símbolos de opressão e violência contra pessoas negras.
12. Tanto o poema quanto a música retratam o sofrimento das pessoas negras. No poema, os escravos são descritos como presos em correntes, sofrendo violência física e psicológica. Na música, as pessoas negras continuam a sofrer repressão e violência nas mãos das autoridades, simbolizadas pelo camburão.
13. A música critica o racismo estrutural e a violência policial no Brasil. Trechos como "Quem segurava com força a chibata / Agora usa farda" denunciam como as práticas de opressão mudaram de forma, mas continuam a existir.
14. A música retrata o racismo estrutural ao expor que a polícia ainda trata pessoas negras de forma desigual e violenta.
15. A história da escravidão deixou profundas marcas nas relações raciais e sociais no Brasil. A violência e o racismo sistêmico de hoje são heranças desse período, perpetuando a desigualdade e a discriminação.
16. Sim, a violência policial contra a população negra tem raízes no passado escravocrata do Brasil e continua a se manifestar na forma de repressão e racismo institucionalizados na sociedade.
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